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Atravessando o Mar Vermelho

Entre as promessas da liberdade e o jugo da escravidão sob os olhos de um israelita

Texto de LIco Mota e arte de César Grego

Andar em direção ao deserto pode ser assustador.


O calor, o terreno acidentado, as bolhas nos pés das longas caminhadas. Mas acima de tudo, a incerteza.


Digo, não a respeito de Deus. Todos os israelitas creem em Deus, não tenha dúvida. De dia e de noite, Ele quem nos guiou para longe do Egito.


Falo da incerteza do futuro.


Saímos do Egito animados rumo à terra que mana leite e mel, mas a cada dia que passa, as murmurações tornavam-se mais intensas. O povo seguia as ordens de Moisés, mas com a impressão de estar andando em círculos.


Quando olho para minha família... para meu filho que acabei envolvendo nessa jornada... então me pergunto: será que Deus realmente se importa com a gente tanto assim? Teria Ele coragem de levar seu próprio filho ao deserto?


Moisés liderou o povo para nos livrar da escravidão dos egípcios, mas como saber se vale a pena? Na escravidão ainda há as migalhas, mas a perspectiva de futuro da liberdade parece incerta.


Não vemos leite e mel. Não vemos nada.


Quando a semente da dúvida já abalava todo o povo, eis que a situação piorou. Um dia, quando estávamos acampados à beira mar, avistamos o exército de Faraó vindo em nossa direção.


Apavorados, clamamos o nome de Deus. Estávamos cercados pelos egípcios. Seria o nosso fim?


1. Arte à lápis de César Grego


Aos berros, o povo apavorado insistia com Moisés para que desistisse da ideia de liberdade. Talvez o melhor a fazer fosse voltar a escravidão no Egito vivos.


O inconformismo transformou-se em fúria.


“Foi por falta de túmulos no Egito que você nos trouxe para morrermos no deserto?”, um gritou contra Moisés. “O que você fez conosco, tirando-nos de lá?”


“Já não lhe tínhamos dito no Egito: Deixe-nos em paz!", outro bradou a plenos pulmões. "Seremos escravos dos egípcios!“


Motivado pela multidão de insatisfeitos, também gritei contra Moisés:


“Antes ser escravos dos egípcios do que morrer no deserto!”


Mas naquele momento, apesar de toda a situação adversa, Moisés voltou-se para nós e disse:


“Não tenham medo. Fiquem firmes e vejam o livramento que o Senhor lhes trará hoje, porque vocês nunca mais verão os egípcios que hoje veem”.


Sua expressão era tranquila. Ele não deu uma resposta apenas para agradar aos corações aflitos. Tinha certeza do que estava falando.


Moisés olhou o exército de Faraó vindo em nossa direção e completou:


“O Senhor lutará por vocês; tão-somente acalmem-se”.


2. Depois do lápis, a arte com nanquim de César Grego

Estávamos cercados, não havia saída.


Mas foi então que algo extraordinário aconteceu.


Em meio ao tumulto, enquanto eu olhava para o exército do Faraó, Moisés clamava a Deus. Enquanto eu focava no problema, Moisés buscava ao único que poderia trazer a solução.


O tempo mudou de repente.


Aos poucos, já não podia mais ver os exércitos de Faraó. Uma nuvem densa se formou entre nós e eles.


Um vento oriental começou a soprar com força. Vi vários objetos voando e disse para minha esposa e meu filho cobrirem o rosto para proteger-se da areia. Ergui meu rosto forçando os olhos e vi Moisés com a sua mão estendida para o mar.


O mar recuou e o vento soprou com força. Um corredor abriu-se mar adentro e duas enormes paredes de água estabeleceram-se, uma à direita e outra à esquerda.


Moisés deu o sinal e os israelitas entraram no corredor.


Caminhamos com os pés na areia úmida durante toda a madrugada precedidos por uma neblina intensa que parecia manter os egípcios distantes, mas nos fazia enxergar com clareza.


A visão era impressionante. O vento constante empurrava o mar e nos incentivava a entrar. Alguns peixes se debatiam no chão, enquanto outros lutavam para se manter dentro do paredão de água.


Era um milagre. Deus estava nos mostrando que era Deus.


Em nosso momento de maior dificuldade, sentimos medo. Sentimos que éramos impotentes para enfrentar os egípcios e Deus nos deu a liberdade. E quando nos sentimos com medo de onde nossa liberdade estaria nos levando, Deus nos amparou e mostrou que está conosco o tempo todo. Sua glória se manifestou quando mais precisamos de sua ajuda.


Aos primeiros raios do Sol, quando terminamos a travessia, Moisés estendeu novamente a mão sobre o mar e o corredor de água se desfez. O mar com toda sua força se fechou e voltou a ser um novamente. Nossos perseguidores foram engolidos pela força das águas varridos por uma força muito maior do que poderiam lidar. Vimos vários corpos de egípcios sem vida na praia.


Ao final, me arrependi de ter sido duro com Moisés e muito mais por não depositado toda a minha confiança no Senhor. Mas, por vezes, precisamos passar por certas situações para entender que não importa se estamos no deserto ou se estamos sendo perseguidos. Não importa se nossos olhos humanos não conseguem ver uma saída.


Deus estará ali conosco para abrir o mar quando clamarmos em dificuldade.

“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão.”

Gálatas 5:1

3. O trabalho final em cores de César Grego

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