Repleta de ação, aventura e suspense, GUERREIROS DE DEUS é uma das revistas em quadrinhos nacionais cristãs mais conhecidas no meio independente.
Até o momento foram publicadas três edições e um site recheado de informações sobre os personagens, tutoriais e prévias das edições.
O Christian Comics Brasil bateu um papo com os autores Lya e André Alves - artistas de mão cheia que tocam também outros projetos paralelos como a oficina de graffiti Philosoffiti e Intercâmbio Cultural Arts - para saber um pouco mais sobre essa HQ e descobrimos a extensão do talento desses missionários:
CCBR: Pra começar, falemos dos autores. Quem são, idade e qual a ligação de vocês com as histórias em quadrinhos.
Lya Alves, 38, ilustradora da Guerreiros de Deus. Desde criança era apaixonada por quadrinhos. A vontade de fazer quadrinhos veio lá pelos 12 anos, quando comecei a ler as hq's do Frank Miller, a série do Wolverine, Elektra e Ronin.
André Alves, 33,roteirista e criador da Guerreiros de Deus. Desde adolescente eu gostava de criar histórias em quadrinhos. Eu gostava muito da Liga da Justiça, do Batman e Homem-Aranha.
CCBR: Percebo que são artistas em vários aspectos. O que mais vocês fazem além das histórias em quadrinhos?
Lya: Eu sou missionária, pastora do Ministério Profético Ninho das Águias, pintora, grafiteira, tenho um ateliê, e temos também a S1, uma marca de t-shirts.
André: Eu sou missionário, pastor do Ministério Profético Ninho das Águias, cantor e compositor, tenho dois álbuns gravados e lançados, o "Quebranto sobre quebranto", de 2013, e o "Andando com Deus, sem medo", de 2014.
CCBR: Vocês tem um ministério profético onde unem arte com evangelismo. Podem contar um pouco mais sobre o Ninho das Águias?
André: O Ministério Profético Ninho das Águias é uma comunidade profética que busca o sobrenatural de forma simples, para aplicação em uma vida diária de comunhão com o Pai; promove missões urbanas e atividades evangelísticas utilizando a arte urbana como ferramenta, os dons ministeriais e espirituais para edificação da igreja de Cristo como estratégia absoluta, cumprindo o IDE nas ruas. O Ninho das Águias tem 4 áreas de atuação: as reuniões nos lares, a escola de profetas, as missões urbanas onde usamos a arte como ferramenta e o louvor profético.
CCBR: Já chegaram a utilizar as histórias em quadrinhos como parte dos trabalhos do Ninho das Águias?
André: Não, a Guerreiros de Deus não é pra evangelismo, ela é pra suprir a falta e opção que o cristão tem de quadrinhos. A ausência de Deus é quase uma regra nos estúdios de quadrinhos.
CCBR: Arte e evangelização se misturam de um modo não convencional no seu ministério. O que vocês acham que falta para igrejas e
projetos missionários apostarem na utilização de quadrinhos ou grafitti para evangelização por exemplo?
Lya: O interesse em investir em missões é pequeno; e de um modo geral as igrejas tem medo de arte porque arte faz pensar. Pensar fora da caixa costuma ser visto como uma ameaça por muitas igrejas, mas não pastoreamos pessoas para terem mentalidade de rebanho, e sim para voarem como águias. Além disso, há pouco investimento em educação nas igrejas, e arte requer educação e cultura. Basta olhar como é selecionado o conteúdo das EBD's que fica claro que não há planejamento para o essencial que é o conhecimento bíblico. Se o essencial que é o conhecimento não é valorizado, a arte também não será valorizada.
André: Há uma falta de interesse de atrair o tipo de pessoas que gostam de graffiti e histórias em quadrinhos, elas não são o padrão que a maioria das igrejas costumam aceitar.
CCBR: Até onde vai a responsabilidade do artista com a sua fé?
Depende do artista, do chamado de cada um. A gente resolveu levantar a bandeira da arte cristã e assim vivemos o chamado de forma integral. Na nossa perspectiva, não há separação entre vida profissional e vida espiritual, é tudo uma coisa só. O que fizemos foi apenas alinhar trabalho e espiritualidade.
CCBR: Falemos sobre os Guerreiros de Deus: quando e como foi que resolveram criar essa HQ?
Quando começamos, em 2008, era uma brincadeira, foi ficando mais séria e a gente achou que valia a pena mostrar pra mais pessoas, então, em 2011 começamos com ela online, e mais á frente passou pro papel. Rompemos a barreira de ter que cumprir um propósito evangelístico com quadrinhos. Queríamos apenas contar boas histórias com personagens densos e uma ilustração que não fosse americanizada e nem estereotipada tipo "Capitão qualquer coisa", com heróis bombadinhos vestindo roupas coladas e cueca por cima da calça ou heroínas erotizadas que combatem o crime de biquini fio dental. Não é uma questão de moralismo, a gente, como consumidor, queria ver quadrinhos maneiros que abordassem mais o universo brasileiro. A diversidade da nossa cultura precisava aparecer de alguma forma e copiar Marvel e DC não é o caminho pra isso. Além disso, tinha a questão religiosa evidente assim, na capa. A gente sabia que algumas portas iam se fechar porque era uma HQ que falava de religião. No mundo dos quadrinhos, "Apocalipse" é um inimigo do X-men, e Diablo é inimigo do quarteto fantástico; Spawn é soldado do inferno, mas o inferno não tem a ver com religião, logo são aceitáveis, mas Deus fica de fora. Diabo não é tema religioso até Jesus aparecer na história. Acabamos fazendo as pessoas pensarem sobre esse tipo de relativismo nos quadrinhos.
CCBR: O público da Guerreiros de Deus é na maioria adulto. Particulamente, gostei da abordagem de ação estilo G.I.Joe. Que tipo de quadrinhos vocês curtem?
Lya: Eu curto o estilo do Frank Miller como roteirista, das ilustrações do Moebius, do preto e branco do Tex, do traço perfeito do Mike Deodato mas nossas referências na GD não vem tanto de quadrinhos. Vem muito mais do cinema, de filmes como" Senhor dos anéis", e games como "Gods of War", "Guild Games". Crescemos lendo Hq's americanas, mas quando fizemos a GD nos esforçamos pra fugir do estilo marvel.
André: Eu gosto de boas histórias, e encontro isso em bons filmes, que me inspiram muito mais que uma história em quadrinhos. Gosto de Tarantino, John Woo, Zack Snyder, filmes como a Trilogia Bourne, Missão Impossível, Jumper etc.
CCBR: Ainda virão mais edições de Guerreiros de Deus? Algum plano futuro de novos quadrinhos?
André: com certeza, temos argumento para pelos menos 4 temporadas de 12 edições cada uma. Uma das coisas que a gente pretende é voltar a fazer a revista online, disponível gratuitamente, como no início, assim atingiremos um público maior e daí partimos pra licenciamento de produtos.
CCBR: Vocês tem contatos com outros fanzineiros? Como é ser autor independente no Brasil?
Lya: Temos, mas é muito mais pela internet, já que todo mundo vive na correria. Como é ser autor independente no Brasil? Quando olho as bancas de jornais cheias de revistas americanas, me sinto como Asterix, na pequena e rebelde aldeia gaulesa: a resistência. Somos poucos, pequenos, mas bravos e guerreiros.
CCBR: Vocês fizeram também um tutorial de artefinal no You Tube do qual tem dicas muito bacanas - dos quais eu mesmo utilizei e agradeço muito. Pretendem fazer mais tutoriais para outros artistas?
André: Sim, eu produzi recentemente mais dois tutoriais de CorelDraw, não voltado a quadrinhos, mas voltado a quem trabalha com gráficas no canal da GGraphic:
E pretendo continuar fazendo os tutoriais pra quem trabalha com quadrinhos, também.
CCBR: Pra encerrar, deixem seu recado para leitores e entusiastas que gostariam de produzir suas HQs sem precisar abrir mão de sua fé.
André: Escrevam sem medo, busquem a inspiração em Deus, busquem na Bíblia as suas bases. Olhem para a criação, nosso Deus é criativo, peçam dicas a ele.
Lya: O que importa é o que te faz queimar. Deus vai fazer certas coisas arderem no seu coração. O critério que vale para um bom sermão vale para uma história em quadrinhos: tem que ser real para você, tem que ter intensidade, não pode ser um roteiro morno, uma ilustração apagadinha, ou uma cópia. Deus te deu talentos e um traço que só você tem. Não fique tentando se adaptar ao "Marvel Way" ou ai estilo mangá. O que Deus te deu é realmente um tesouro e se você tivesse um tesouro para apresentar ao Rei, apresentaria uma cópia? No Grande Dia, o que você apresentaria ao Rei dos Reis? Cópias da Marvel? dos mangás? Não enterre seu talento, acredite nele.