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Entrevista com Carlos Brandino

Se produzir quadrinhos no Brasil já não é das tarefas mais simples, produzir quadrinhos e ainda ser cristão é mais difícil ainda.

Nessa entrevista para Christian Comics Brasil, o ilustrador profissional e irmão em Cristo, Carlos Brandino nos conta um pouco mais sobre seus trabalhos, fala sobre HQs e sua fé.

CCBR: Primeiro, seu perfil. Fale um pouco sobre voce. Nome, idade e quando começou a se interessar por quadrinhos.


Carlos: Bem, meu nome completo é Carlos Roberto Brandino da Silva, e meu pseudônimo é Carlos Brandino. Hoje tenho 39 anos e comecei a me interessar por quadrinhos entre 8 a 9 anos. Tudo começou, quando meu pai me comprou uma edição dos trapalhões que o Didi virava o Hulk, depois na mesma semana comprei uma edição do Homem Aranha e do Hulk da Editora Abril. A partir daquele dia o Hulk virou meu personagem favorito e os quadrinhos entrou na minha vida.


CCBR: Fala um pouco de sua carreira como ilustrador. Quanto tempo está nessa profissão?


Carlos: Como profissional, tendo material publicado por uma editora, desde 1994. Mas, desenho desde os 6 anos. Bem antes de entrar na escola. Aos 8 anos participei de um concurso de desenho na escola e fiquei em segundo lugar. Participei de vários outros eventos da Semana Cultural que tinha todo ano na escola, não pra ganhar algo, mas apenas para participar. Com este material publicado em 94, tive mais contatos com outros editores e autores, que sempre procuravam me passar algum projeto. Com isto, peguei alguns trabalhos de quadrinhos pra Editora Escala, Borghini, O Levita, e trabalhos institucionais pra empresas como Warner Lambert, Porto Seguro, Jornal de Bertioga e outros. Teve um momento na minha vida, que eu não desenhava quase nada durante meses, só fazendo um desenho aqui e ali. Pois, não tinha apoio de ninguém e não via motivo pra desenhar, pois desenhava muito mal. Em 98 em diante, comecei a entrar com tudo na internet e comecei a fazer muitas amizades com outros desenhistas, que foi muito legal. Em 2008, tentei me profissionalizar de vez, tipo: estudar mais, correr atrás de agências, contatos profissionais... Só para esclarecer...apesar de estar sempre desenhando, eu não vivo só disto. Trabalho em uma empresa de Comunicação Visual, registrado e nas horas livres, no ônibus e na hora do almoço é que eu faço meus desenhos. Por isto, tenho pouquíssima coisa publicada.


CCBR: Como é ser um desenhista cristão? Qual a relação entre fé e arte?


Carlos: Cuidado! Muito cuidado!! Digo isto, porque sempre vai aparecer alguém te oferecendo dinheiro pra desenhar algo pornográfico, sensual, violento demais e ate coisas que vão ao contrário a Palavra de Deus. Digo isto, porque já recebi propostas pra tudo isto acima e eu disse não pra todas. Alguns eu cheguei a aceitar pois estava precisando de dinheiro, mas depois o Espírito Santo falou mais alto no meu coração e eu pulei fora. Nem cheguei a desenha-las. Mas também não podemos generalizar tudo, mas devemos estar vigiando sempre. Sobre minha fé...3 anos atrás, eu ainda tinha a obsessão em trabalhar pra Marvel/DC, um sonho de adolescência. Mas toda vez que eu pegava um roteiro teste pra fazer, não saía nada. Travava tudo. E isto começou a me incomodar e comecei também a questionar com Deus, se aquilo era pra mim ou não. Entreguei por inteiro minha vida como desenhista e meu dom a Ele. De repente, dias depois aquela obsessão e meta que eu tinha, sumiu. Não tinha mais o desejo desenfreado em trabalhar com os quadrinhos americanos. De novo me questionava com Deus, como eu deveria usar meu dom e se aquilo era do Senhor. Então, ele começou a abrir as portas de editoras evangélicas, agências, estamparias, roteiristas e grupos de artistas evangélicos com ideias abençoadas para se colocar em prática. Isto tudo está acontecendo, porque confiei Nele e me entreguei por inteiro a Ele.


CCBR: Já teve alguma porta profissional que se fechou e alguma que se abriu por ter declarado sua fé em Cristo abertamente?


Carlos: Por eu ser cristão, parece que eles não se importam muito com isto. Sendo que eu seja um profissional e entregue os trabalhos no prazo. O importante é ser profissional. Na verdade, sou eu quem tenho fechado algumas portas, por causa do conteúdo deles e da proposta que foge daquilo que Deus nos ensina. Tem coisas que começo a ler e nem consigo chegar até o final. Só pra se ter uma ideia, recebo todo mês de um a três roteiros pra analisar ou convite pra participar de algum projeto.


CCBR: Em um dos seus desenhos, voce fez um cordeiro e um leão. Fala um pouco sobre ele.


Carlos: Foi pra uma empresa de estamparia evangélica, depois vieram outras pessoas pedindo esta mesma ilustração pra estamparem em suas camisetas; Gosto muito de desenhar animais e meu site está cheio deles.



CCBR: Qual foi seu trabalho favorito?


Carlos: Esta é difícil de responder. Cada trabalho que eu faço tem um história por trás. As dificuldades, as conversas com o cliente que muitas vezes vira amizade (ou inimizade eheheheh), as buscas por referências e por ai vai. Porém, pensando melhor... teve um trabalho, que até hoje eu me arrependo por não ter feito. Eu posso considerá-lo como, o meu favorito que não rolou. Foi um escrito pelo Hector Lima, que tem um gorila albino, chamado Adão em uma cadeira de rodas. Era uma grande história, mas na época eu estava passando por vários problemas pessoais, que interferiam na projeto. O autor teve que passar o projeto pra outro desenhista pra não atrasar o prazo de entrega. Se eu fosse ele teria feito o mesmo também.



CCBR: E qual deu mais trabalho pra ficar pronto?


Carlos: Esta é facil: O mapa de Bertioga que está no meu site e aqui. Vendo ele parece que foi fácil, mas foram alterações atrás de alterações. Acrescentar prédios, pontos turísticos, uma avenida que faltou....ufa. Porém, tenho orgulho dele, pois ficou muito bom no resultado final. Mas, foi dureza. Cheguei a receber proposta pra fazer mapas de outras cidades, mas pulei fora. ehheheheh



CCBR: Voce acredita que existe espaço para HQs evangélicas no mercado nacional?


Carlos: Sim. Este espaço sempre existiu e ainda existe. Só não esta sendo preenchido como deveria. Com boas histórias e bons desenhos. Recentemente, editoras como a 100%Cristão e a Betânia tem nos trazido bons materiais em quadrinhos. Mas ainda não é o suficiente e tem muitas lacunas vazias. Uma vez, comecei a pesquisar em várias livrarias evangélicas e via muita coisa pra crianças, mas pouquíssimas pra jovens e adultos. Eu mesmo como leitor de quadrinhos, sinto falta disto. Até agora, tivemos dois grandes BOOMMM no nosso mercado de quadrinhos evangélicos: A Bíblia em Mangá e a Bíblia em Ação. Este segundo abriu o interesse das pessoas e editoras evangélicas em quadrinhos cristãos. E a editora 100%Cristão, percebeu isto e está correndo atrás. Porém, acho que ainda falta alguma coisa. Arriscarem mais, tanto autores como editores. Todos querem copiar o que está dando certo, não querem arriscar algo novo pra não perderem dinheiro. Mas, a Bíblia em Ação foi um risco grande na época e deu certo. Agora todo mundo quer fazer uma igual. Já recebi três convites pra fazer uma Bíblia inteira em quadrinhos, igual a da Bíblia em Ação. É disto que estou falando, arriscar algo novo! Ideias novas! Falta isto.


CCBR: Quais são seus projetos futuros?

Carlos: Não posso entrar em detalhes, mas temos algumas ideias, que aos poucos estão ganhando forma pela 100%Cristão.

* Tenho um projeto pessoal (roteiro e arte) sobre um Tocador de Shofar, que será uma história fictícia que se passará no Velho Testamento.

* Estou ajudando a elaborar alguns projetos com alguns artistas muito bons no grupo Desenhistas Cristãos do Facebook. * Um projeto de Western com um amigo e grande roteirista, que começamos a elaborar a menos de um mês.

Além disto, todo mês aparece algo novo pra eu participar, então até lá esta lista pode mudar um pouco.

Só não posso mudar muito, ou não estaria sendo profissional com quem já estou a mais tempo. E o meu tempo ainda é limitado pra desenhar.



CCBR: Pra finalizar, qual conselho você daria pra quem pretende iniciar na carreira de ilustrador ou produzir seus próprios quadrinhos?


Carlos: Seja sempre auto crítico, estude bastante e pesquise bastante. Nunca mostre seu trabalho aos seus pais e amigos; porque eles sempre vão querer te agradar dizendo que está bom. Pergunte sempre a um profissional e receba com naturalidade as criticas, só assim irá absorve-las melhor. Seja humilde, sempreeeeeee. Nunca fique satisfeito com seu trabalho, procure sempre aprender coisas novas. Estude Desenho Artístico antes de fazer qualquer curso de quadrinhos, ilustração,... pois ela é base de todos os desenhos. E de novo, continue sempre sendo humilde.


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